O time da Matriz Energética Diversificada

Confira a íntegra do artigo assinado por Xisto Vieira Filho, presidente da Abraget, publicado no Canal Energia, em 13 de janeiro de 2023.
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O time da Matriz Energética Diversificada

Recentemente, lemos com total interesse uma reportagem publicada em um jornal de grande circulação informando aos seus leitores que o ano de 2021 se caracterizou, no setor elétrico, por um aumento significativo de emissões de gases de efeito estufa (GEE) por parte das usinas termelétricas

Como na maioria das vezes, a notícia teve um tom crítico às termelétricas, como se fossem as grandes vilãs do meio ambiente. Um discurso que tem sido repetido de forma recorrente por instituições com baixo conhecimento sobre esse segmento. Esquecem de informar, no entanto que, em média, apenas 2% de todas as emissões GEE no Brasil são de responsabilidade do setor elétrico.

As termelétricas sempre provocaram um sentimento ambíguo – ora vilões, ora “salvadoras da pátria” – por parte do público e, em especial, por articulistas interessados no setor.

Desde a década de 70, quando o sistema brasileiro tinha hidrelétricas em abundância e pequena parcela de térmicas, durante os períodos secos havia temor, por parte de alguns especialistas, em despachar as térmicas na base para evitar racionamentos. O argumento era o de que, se chovesse no curto prazo, as hidrelétricas iriam verter água. O contrário também ocorria. Quando São Pedro não mandava chuvas, as termelétricas eram tidas como heroínas.

Essa percepção ambivalente, que muda de acordo com o cenário, foi ganhando eco com o passar do tempo até que, a partir dos anos 2000, o sentimento negativo se tornou residual. À época, chegou-se à conclusão de que hidrelétricas e termelétricas eram parceiras e não competidores. As térmicas serviam para firmar, cada vez mais, a energia produzida pelas hidrelétricas que, efetivamente, são as melhores usinas do sistema. Isso quando não ocorrem períodos secos.

Pois bem, o tempo passou e o nosso sistema, que era hidrotérmico, agora é multi fontes de energia, com a introdução em larga escala de usinas eólicas e solares, principalmente. Mas ocorre que, em vez de evoluir, estamos dando marcha ré, de volta à década de 70 com a mesma interpretação de que há competição entre fontes, e não complementariedade.

Novamente, estamos repetindo erros do passado ao não considerar a matriz elétrica como um time que joga com o mesmo propósito: manter a segurança e minimizar a emissão de GEE, ao menor preço. Tudo isso com o objetivo de maximizar os ganhos e garantir o conforto dos consumidores e do próprio país. Esse é um entendimento pacífico entre técnicos do setor elétrico. Nosso desafio é amplificar essa compreensão para outras parcelas da população.

Realmente, em 2021, as térmicas foram despachadas pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) com maior frequência e intensidade e, consequentemente, houve um aumento na emissão de GEE. Mas por que isto ocorreu?

Porque 2021 foi o ano com a pior hidrologia dos últimos 90 anos, produzindo um período seco inimaginável. É só recordar as recorrentes imagens de leitos secos de grandes rios do Sul, Sudeste e Nordeste exibidas na mídia durante aquele ano.

Nesta situação, foram justamente as termelétricas, gerando por meses seguidos em suas capacidades máximas, que salvaram o país de um racionamento de grandes proporções. É claro que as usinas eólicas, solares e as próprias hidrelétricas ajudaram também. Ou seja, foi o “Time Matriz Diversificada (TMD)” quem ganhou o jogo. De novo.

O que teimamos em reiterar é que essa narrativa de “guerra entre fontes energéticas” é danosa para o país, traz prejuízos aos consumidores. O nosso clima é de paz.

Entendemos que a transição energética responsável ainda tem cerca de 30 anos pela frente. E os compromissos dos geradores termelétricos com o setor elétrico serão tranquilamente cumpridos, garantindo a segurança, reduzindo os efeitos ambientais e permitindo os menores preços aos consumidores.

Podem ter certeza: o TMD vai vencer todas as batalhas. E mais, estamos ansiosos para a chegada de novos atores que vão compor nossa equipe campeã, tais como baterias, redes inteligentes (smart grid), utilização de hidrogênio verde em máquinas térmicas, e a tecnologia de captura e armazenamento de carbono. Com esse reforço, o TMD que já está ganhando, será imbatível.

A íntegra deste artigo está disponível também no Canal Energia no link: https://www.canalenergia.com.br/artigos/53234701/o-time-da-matriz-energetica-diversificada



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