A peregrinação das termelétricas

Confira a íntegra de artigo assinado por Xisto Vieira, presidente da Abraget, publicado na agência EPBR,  em 13 de outubro  de  2022.

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A peregrinação das termelétricas

Nos últimos meses, temos assistido a um verdadeiro bombardeio de informações sobre as usinas termelétricas. O ataque, quase sempre, parte dos que se dizem “especialistas”.

Eles costumam emitir suas opiniões na mídia promovendo, muitas vezes, a disseminação de informações equivocadas para os leitores.

Uma dessas mensagens que vemos ser propagadas é a de que a melhor forma de dar segurança ao sistema, em face da intermitência das fontes renováveis, seria através de hidrelétricas.

A afirmação até seria exata (ou quase) se tivéssemos — sempre — chuvas suficientes ou níveis de reservatórios elevados. Não é preciso ir muito longe para reavivar a nossa memória.

Em 2021, ano passado, tivemos uma crise hídrica de fortes proporções, a maior seca dos últimos 90 anos.

Entre abril de novembro de 2021, as termelétricas geraram 146.469 MWmédios. No mesmo período, as eólicas produziram 71.959 MWmédios, menos da metade; e as solares, 7.397 MWmédios, nem 10%.

Os números mostram, de maneira clara e inequívoca, que as termelétricas salvaram o país de um racionamento de grandes proporções.

Ou seja, quem abasteceu, gerou energia suficiente quando faltou água nos reservatórios foram principalmente as termelétricas.

Em outra frente, acompanhamos no noticiário porta-vozes defendendo que sejam feitos leilões para expansão da geração com “independência de tecnologia”. É uma surpresa enorme essa filosofia. Vejamos.

A Associação Brasileira dos Geradores Termelétricos (Abraget) sempre defendeu uma matriz de geração diversificada, pois a diversificação adequada resulta, certamente, na matriz ótima.

Temos convicção de que só assim podemos dispor ao país as maiores vantagens, que são ter fontes renováveis (eólica e solar) por benefícios ambientais; hidrelétricas, as melhores usinas do sistema, em particular as que têm reservatório; e termelétricas para complementar a segurança elétrica e energética do sistema. Esse sim é o melhor mix para o país.

As proporções adequadas deveriam ser determinadas por um planejamento (este sim) neutro em termos de tecnologias e sem superdimensionar ou subdimensionar os produtos que cada tipo de fonte oferece.

E ainda temos a turma do “acha isso, acha aquilo”, os “achólogos”, que argumentam que outros países adotam políticas mais agressivas de captura de carbono.

Alto lá, recorro aos números, novamente. Os países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) têm uma matriz formada por 20% de fontes renováveis e 80% de termelétricas.

No Brasil, temos praticamente o inverso, 83% e 17%, respectivamente. A comparação precisa ser feita em outros moldes, pois estamos muito à frente neste quesito ambiental.

Volto ao leilão de “independência tecnológica” que prevê colocar na mesma disputa, onde o critério é preço, diferentes tipos de fontes, que oferecem produtos totalmente diversos (por exemplo, as renováveis têm produtos ambientais; as termelétricas, produto segurança; e as hidrelétricas todos).

E quanto ao preço, é claro que as renováveis são as que têm o menor valor por MWh.

Mas esta competição é o mesmo que fazer um leilão, onde o critério da disputa é preço, entre uma laranja e um automóvel. Óbvio que a laranja vai ganhar.

Se o seu objetivo for tomar suco, acertou. Mas, se o alvo é ir do Rio de Janeiro a São Paulo, o vencedor teria que ser o carro, pois não se faz qualquer deslocamento de laranja.

Talvez o ideal fosse ir do Rio de Janeiro a São Paulo tomando um suco de laranja. Dessa forma, os dois “produtos”, totalmente distintos, caberiam na sua “matriz de satisfação”.

No setor elétrico, a “matriz de satisfação” seria a que minimiza os impactos ambientais, maximiza a segurança elétrica e energética e reduz os custos.

Cientes da sua importância para o sistema, os geradores termelétricos estão fazendo a sua parte.

Passo a passo, estamos aumentando a eficiência energética das unidades geradoras termelétricas, otimizando requisitos de manutenção e colocando novas gerações com equipamentos menos poluentes e de última geração.

A médio e longo prazos, vamos dispor de tecnologias fortes de descarbonização, a partir do CCS (captura e armazenamento de carbono) e do uso de hidrogênio verde ou hidrogênio azul para operar as atuais e futuras termelétricas.

O hidrogênio verde poderá ser produzido a partir da energia elétrica gerada, por exemplo, em eólicas offshore (no mar).

Essas usinas, em geral, têm fatores de capacidade mais elevados que às similares instaladas em terra (onshore).

Também aparecem como uma excelente alternativa complementar, juntamente, é logico, com as nossas “usinas campeãs”, que são as hidrelétricas, principalmente as que têm reservatórios.

Também retratando o trabalho que a Associação tem feito na linha ambiental.

Recentemente o conselho diretor da Abraget recomendou expressamente a nossa participação efetiva no Fórum do Meio Ambiente e Sustentabilidade do Setor Elétrico (FMASE), em vista do nosso objetivo comum, da excelência dos trabalhos que vêm sendo desenvolvidos e pelo apoio do Fórum das Associações do Setor Elétrico (Fase).

O fato é que meio ambiente e segurança energética são indissociáveis e não opostos.

Cientes da responsabilidade com a entrega do nosso maior produto, a segurança, os geradores termelétricos têm o firme compromisso de serem, cada vez mais, fontes ambientalmente favoráveis. Tenham calma, “especialistas genéricos” de plantão, esse futuro está logo ali.

O artigo também está disponível neste endereço: https://epbr.com.br/a-peregrinacao-das-termeletricas/?utm_source=site&utm_medium=push



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